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Tema: Artigos
Explicado isso, volto ao dilema de todas as mulheres que se perguntam
A cena do Hannibal Lecter degustando o rosto do policial na prisão, ainda que muito atraente e instigante, não faz juz ao psicopata clássico. Há uma variação enorme de tipos de psicopata na matriz do diagnóstico de personalidade antissocial levantada pela APA (Associação de Psiquiatria Americana).
trecho do filme da escapada do Hanibal - https://www.youtube.com/watch?v=s3nIw30hn4U
Link YouTube | Ok, a gente já botou o link logo no abre to texto, mas essa cena é boa demais pra ser só um link
A ideia de que existam pessoas sem coração, aptas a nos matar num piscar de olhos, nos amedronta a tal ponto que gostamos de saber tudo sobre elas. Como se vestem, comem, pensam e agem?
Nutrir tal noção do mal distante também tranquiliza o nosso senso moral, confortável em saber do perigo bem longe de nós, enjaulado na mente de um sujeito sádico, perverso. Quase não-humano. O cinema americano adora retratar os psicopatas como seres que matam indiscriminadamente, com QI acima da média, sagazes e capazes de dar grandes bailes nos competentes agentes do FBI.
Nem sempre. Eles apenas têm um prejuízo na capacidade de processar emoções de simpatia, carinho e compaixão. Por essa razão, sua cognição fica liberada de culpa, vergonha, medo e receio. Sem tais filtros, agem de maneira muitas vezes imprevisível.
Quem não gostaria de se sentir assim por alguns dias e resolver alguns problemas práticos sem tanta interferência dos impulsos do coração?
Existem 3 fatores que influenciam diretamente na gênese de um psicopata:
Uma condição cerebral deficitária;
Fatores ambientais tóxicos, como uma família desajustada;
O traço psicológico desses comportamentos incitadas por um impulso emocional que carece de empatia.
Como falei, a ausência de culpa ou compaixão é a marca essencial do psicopata. Isso o leva a cometer inúmeros atos que atentam contra os outros.
Por quê?
O psicopata, tão temido e tido como a culpa de todos os males do mundo, anda entre nós e pode muito bem ser o seu amigo de infância, seu irmão, sua tia ou namorada.
Esse tipo de pessoa não vem com tarja preta na cara e nem com código de barras danificado. É bem possível que adore o seu amigo psicopata e, às vezes, até entre em roubadas por influência dele. É aquele cara que faz trapalhadas, exagera e perde a mão, quase como você. Ou melhor, pode ser você.
Para fins de exercício e pensando nos tipos com quais lidamos em nosso dia-a-dia, podemos dividir esse transtorno em 5 hipotéticos tipos. Não é uma escala oficial. Quero falar daquelas pessoas que nos deixam com uma pulga atrás da orelha. Nosso amigo de bar, o cara mais porra-loca da sala ou aquele que desistimos de esperar que devolva o dinheiro emprestado.
Vou descrevê-los em ordem de periculosidade, quase uma escala de maldade mesmo. Isso não quer dizer que todos esses perfis indicam pessoas prontas para cometer algum tipo de assassinato brutal no próximo final de semana.
O conquistador
Foto Patrick Bateman, de “American Psycho”
Imagine que você acorda com o coração inquieto, uma angústia estranha e logo te vem uma garota linda na cabeça. Você sabe que precisa ligar para ela e combinar de sair. Nem vê que horas são e manda um torpedinho safado e cheio de amor para dar.
Ela responde ansiosa, com algumas gracinhas e você sente que ganhou o mundo. Mas até a noite chegar, vai demorar demais para aquele comichão passar e já que aquela vizinha gostosa te deu mole ontem não ia custar nada bater na porta dela pedindo um favor. Ela te vê pelo olho mágico demora mais um pouco e abre a porta de calcinha com carinha de “me pega com força”. E assim a brincadeira vai pelo resto do dia e das semanas. Só que toda a delícia começa a virar uma “perturbação”.
O perfil: Esse é o tipo odiado e adorado por todas as mulheres. É capaz de falar com grande facilidade tudo aquilo que uma mulher gostaria de ouvir. Ele fareja boas oportunidades sexuais explorando aquela menina que acha que pode mudar o caráter do homem. Ele adora sentir aquele cheiro de vitória no ar.
Não é necessariamente de sexo que ele gosta, mas sim da sensação de poder ter o sexo, afinal, ele é do tipo que se entedia rápido, muito rápido. Esse é o motivo pelo qual vai tentar desaparecer do motel ou da casa da guria logo que terminar de gozar.
A caçada valida sua potência. Seu carisma é incomum e encantador. Qualquer um quer ter ao seu lado esse tipo de pessoa como amigo ou como amante.
Por trás das mil maravilhas, vive ciclos de autoengano que recusa a enxergar. Evita o próprio sofrimento a todo custo, costurando as narrativas mais mirabolantes para se convencer de nunca ser o causador da dor alheia.
Sua habilidade principal: encantar, adocicar a vida e tornar tudo mais leve. Parece buscar por reais vínculos, mas em verdade, não os desenvolve. Apenas falseia doces melodias.
O malandrão
foto
Alex DeLarge, de “A Laranja Mecânica”
Sabe aquela manhã gelada que nem dá gosto sair da cama? Pense como seria poder desligar o soneca do despertador não por 10 minutos, mas por quanto tempo você quisesse. Seria como viver em férias permanentes, sem dor de cabeça, contas à pagar ou problemas para resolver. O paraíso na Terra, sempre com uma mulher jeitosa do seu lado pronta para resolver cada impasse chato da vida cotidiana.
Ele quer gozar a vida, só gozar.
O perfil: Imagine a figura mítica do malandro carioca ou da maria chuteira. Meio preguiçoso, acorda bem tarde, mesmo tendo dormido cedo. Parece que tem uma ginga na alma que faz as pessoas se deliciarem com sua presença. Tem sempre um agrado nos lábios e uma rosa na mão.
Não tem medo de tiro, de ameaça, de mulher na TPM, muito menos de marido bravo. Ele é capaz de convencer o cornudo mais enfurecido de que não fez nada demais. Se pego na cena do crime, transando com a mulher do sujeito, enquanto ele estiver usando meias, ainda conseguirá convencer o chifrudo que estava consertando o chuveiro e para isso precisava estar nu. E pior, será convincente.
Ele estará nos bares, rachando a cerveja (a coxinha, o cigarro, a balada) dos “amigos” e o seu triunfo será quando encontrar uma doce mulher que será o seu passaporte para a felicidade. Condoída pela situação dele, vai hospedá-lo em casa. Como uma sanguesssuga, esse malandro irá sorver cada coisa que puder com um sorriso e cinismo no rosto, até que ela acabe indo embora, atormentada.
Sua habilidade principal: aproveitar a vida como ninguém, sem pudor ou medo do dia seguinte. No entanto, com traços egoístas, autocentrados. Ignora o bom senso social, fingindo não ter desconfiômetro.
O invocado
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Bill “the Butcher” Cutting, de “Gangues de Nova York”
Quem gosta de levar desaforo para casa e passar de covarde na frente dos outros? Se o cara te fechou no trânsito e foi folgado, porque não avançar nele e tirar satisfação? Qual o problema de colocar gente folgada no seu devido lugar? Se o mundo é feito de gente malandra, porque não mostrar quem manda no galinheiro? Qual o problema de querer tudo certo e do seu jeito?
O perfil: Sabe aquele cara que você tem medo de encontrar na calçada e que tem um tipo de vermelhidão nos olhos de dar medo? É dele que falamos. Pronto para resolver seus problemas no tapa, ele é sempre o esquentadinho da turma. Na dúvida ele está metendo a mão na cara de alguém, homem ou mulher.
Sem perceber, está sempre procurando um meio de arranjar encrenca. Por essa razão, adora o trânsito das metrópoles. Afeito ao porte de arma, tem sempre uma prestes a ser engatilhada. Aliás, tem uma filosofia bélica para lidar com a vida: ou você é seu aliado ou seu inimigo. 8 ou 80, costuma ter uma lista de desafetos e nunca faz questão de aliviar a barra de ninguém.
Adora filmes de guerra ou violência e, se pudesse, seria da polícia ou do crime organizado. De alguma forma, gosta de se envolver com coisas ligadas ao Direito, seja para corromper ou exercer o poder.
Sua habilidade principal: identificar riscos e perigos físicos antes de todos, de forma a se manter sempre próximo da “confusão” – seja para agredir ou para atacar em nome da suposta proteção de si mesmo ou daqueles à sua volta.
O golpista
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Roy Waller e Angela, de “Os Vigaristas”
O mundo é muito chato, demorado e cheio de burocracias inúteis. Seria bem legal se você pudesse se ver livre de todas elas e se dar muito bem no final. Ninguém está vendo e se estiver não tem problema, afinal, quem paga suas contas?
Na hora de pagar a conta com os amigos, nunca paga a maior parte. Todo mundo se divertiu “às suas custas” e podem pagar mais, inclusive a parte dele. Isso sim é que é vida. A fila do banco está demorando, as pessoas estão desatentas e você pode dar aquela furadinha sem afetar ninguém. Por que não?
“Jeitinho brasileiro” é seu sobrenome. Trambiques e maracutaia são seus irmãos.
Se precisar, inventa uma desculpa, daquelas mentirinhas inofensivas que não prejudicam ninguém. Se passar por outra pessoa para conseguir entrar numa festa, badalada ou ganhar uma graninha, “ia ser bem divertido”. Se todo mundo brinca de faz-de-conta no carnaval, porque não expandir a farra no resto do ano todo? É proibido proibir.
O perfil: Famoso 171, com ele o fio de bigode não vale um tostão. “Dinheiro na mão é vendaval” e, quem puder emprestar, terá o retorno merecido e bem breve, quase próximo da sua morte. Se precisar, ele inventa uma voz, um comportamento ou gesto novo para se dar bem na vida.
É um camaleão social, sempre pronto para surrupiar um objeto, um posto, um cargo ou pessoa. É dissimulado e mentiroso, compulsivo e talentoso, sabe dar nó em pingo d’água como ninguém. Se for preciso, ele chora ou ri para se livrar de alguma encrenca.
O tipo mais cético é capaz de ser enganado por ele, aliás, os mais certinhos costumam ser as vítimas favoritas deles. Afinal, ele sabe massagear bem o ego dos outros para conseguir o que quer. Seu lema é “quero me dar bem, aqui e agora!” e, para isso, se aproxima de grupos de boas posições para tirar proveito e até praticar atos de estelionato.
Sua habilidade principal: entender as sutilezas humanas com presteza fora do comum, manifestando ilusões capazes de mover as pessoas nas direções exatas em que deseja. Bancos, cofres e mulheres não possuem segredos diante de seu dom. Criam confiança, vendem sonhos e evocam ambições desconhecidas até mesmo por seus alvos.
O serial killer
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John Doe, de “Se7ven – Os sete crimes capitais”
Você agora tem uma sensação de medo constante, muito medo de que alguém atrapalhe seus planos do fim-de-semana. Tudo está planejado para sair do melhor jeito possível, nada pode dar errado, afinal, nem sempre você pode fazer aquilo que gosta. A sensação é de um baile de formatura, a balada do ano, seu dia de aniversário, um momento mágico.
Imagine alguém entrando no meio do caminho e tentando impedir você de conhecer aquela pessoa que vai te trazer um prazer absurdo. A frustração seria inigualável! Então é melhor dar cada passo por vez, meticulosamente, sem contar nada pra ninguém. Aquela comida deliciosa, só parecida com o almoço de sua mãe e que você espera comer há tanto tempo estará ali, te esperando suculenta. O doce sabor da carne humana em decomposição. Humm, inesquecível.
O perfil: Seria adorável permanecer por um tempo sem se sentir muito culpado com as próprias ações, apertar o botão do foda-se e sair fazendo o que tiver vontade. Assim se sente o tipo mais perigoso dos psicopatas, os criminosos seriais – que podem incluir os pedófilos, estupradores, assassinos ocasionais e os que matam em série.
Liberdade radical é seu lema e ninguém poderá se interpor no seu caminho (correndo o risco de morte). Quem tenta atrapalhar suas vontadse está correndo um sério risco para seu bem-estar. Como ele é incapacitado de se colocar no lugar dos outros ou ter compaixão, costuma ter grande dificuldade de se adaptar ao convívio social. Ele desenvolveu a técnica de copiar os comportamentos dos outros e reagir de forma mais automática.
Sua sede por poder e busca por alívio da ansiedade costumam terminar no esquartejamento cuidadoso de uma vítima escolhida a dedo.
Habilidade principal: ser frio, calculista e agir da forma que julgar adequada – meticulosa, impiedosa, impulsiva… – para conseguir aquilo que deseja. Sem sentimento de culpa, sem rodeios e sem justificativas.
Err… então, como diferenciar um “conquistador/malandro/invocado normal” de um psicopata?
A frequência e a consistência das ações, bem como os danos provenientes, são variáveis centrais nessa resposta.
Se a pessoa exibe algum dos comportamentos explicados com alta frequência (entre diária e semanal) e regularidade ao longo do tempo (três ou mais meses), perigo. Se ainda tais ações tendem a gerar prejuízos materiais, emocionais e/ou sociais observáveis em, digamos, duas ou mais pessoas, acenda o alerta vermelho.
Você pode estar diante de um psicopata. Um em cada cem de nós, é.
Isso salienta um ponto interessante. Crimes não são a única válvula de escape para um psicopata. Nossa sociedade é capaz de absorver tais comportamentos em suas engrenagens, por meio de profissões nas quais a psicopatia possa ser sublimada, percebida até mesmo como uma qualidade.
Vendedores, seguranças, advogados, lutadores, cirurgiões, políticos, marqueteiros, executivos de alto nível… Praticamente qualquer cargo que exija traços persuasivos, dominadores, impositivos pode acomodar um psicopata. Óbvio, isso não seria exclusividade das profissões citadas. São meros exemplos.
A maldade é uma questão de contexto, acessível a todos nós. Não se engane, você já cometeu atos deliberadamente maus, ruins, prejudiciais e causadores de infelicidade ao longo da vida. E, mesmo com certa dificuldade em admitir, gostou disso.
Porém, nem tudo é cinza. Vivemos em tempos cada vez mais civilizados.
Não saímos na esquina para matar um desafeto feito no almoço – ainda que o Datena possa querer nos convencer do contrário. A natureza colaborativa e compassiva do ser humano se faz cada vez mais presente, para o nosso bem. Em grupos, mesmos indíviduos desviantes tornam-se aptos a viver uma vida plena, cultivando relações minimamente estáveis e funcionais.
Mesmo os supostos normais têm muito a aprender com aqueles que condenam. Boas doses de leveza, jogo de cintura e capacidade de lutar sem medo ou pudor por aquilo que desejamos são habilidades essenciais em nossas trajetórias.
Um pouquinho de psicopatia do bem em nosso cotidiano teria seu espaço, não acham?
***
Para aprofundar seu conhecimento:
Livro Mentes Perigosas – o Psicopata Mora ao Lado, escrito por Ana Beatriz Barbosa Silva
Livro Without Conscience, de Robert Hare, psicólogo, professor e PhD
Livro Por que fazemos o mal?, de minha autoria
Site PsiqWeb, do médico e professor psiquiatra Geraldo José Ballone (não se engane pelo visual ruim, o conteúdo é excelente)
Artigo Pelo direito de ser um homem torto, de minha autoria
Artigo Sem pena nem perdão, por Mauricio Horta, na Superinteressante
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